quarta-feira, dezembro 14, 2016

Quem passa pelo Alcobaça...

É uma triste notícia mas as notícias são assim: mais que boas ou más, as notícias são notícias. A má notícia é que o Restaurante Casa Alcobaça, antiga casa de pasto na Rua da Oliveira ao Carmo, tal como muitos o conheceram e apreciaram ao longo de muitos anos, fechou. A vida é assim e os proprietários do Alcobaça não resistiram a uma oferta … irrecusável.
Acabaram por ali as sardas cozidas com grelos e cebola, os cachuchos fritos com arroz de tomate, os filetes de garoupa, as sardinhas assadas, o bacalhau na brasa, o cozido à portuguesa, a dobrada, as iscas… e as histórias sobre os tempos em que por ali parava muito gente do teatro, a Beatriz Costa, o Mário Alberto, muitos mais. Mais recentemente, com a redacção do Diário Económico do outro lado da rua, mesmo em frente, o Alcobaça era o poiso certo e seguro para almoço, jantar e até mesmo para o lanche. Mas o Económico também se mudou. 
Casa simples, com muitos anos de história e muita memória, o Alcobaça foi um restaurante de boa comida caseira portuguesa, alguma da qual as pessoas só tinham conhecido na vida em casa da avó ou da mãe.

Não se sabe o que haverá de futuro no número 9 da Rua da Oliveira ao Carmo. Outro Alcobaça não será de certeza. 

sexta-feira, dezembro 09, 2016

Mário Cesariny: descanso eterno nos Prazeres

O corpo de Mário Cesariny, poeta e pintor, foi trasladado esta semana do Talhão dos Artistas para jazigo individual, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, em cerimónia que assinalou os dez anos da morte do artista, com a presença do Presidente da República, ministro da Cultura, presidente da Câmara de Lisboa e outras personalidades. 
Monumento funerário de Manuel Rosa 
Na sua poesia, as palavras têm a exactidão cortante da ponta do diamante sobre o vidro, a velocidade densa dos grandes êxodos, o brilho obscuro dos olhos no amor. Na sua pintura, as cores levam o braço até à proximidade do mar e as formas são as do vento a abrir o portão do castelo”, disse na cerimónia José Manuel dos Santos,  amigo de Cesariny, presente da qualidade de director cultural da Fundação EDP.
«A realidade, comovida, agradece…», poderia ter dito, se dissesse, Mário Cesariny. 
A cerimónia foi acompanhada por momentos musicais, executados pelo Ensemble da Casa Pia, instituição que o poeta e pintor constituiu herdeira. 
Um poema póstumo à Mário Cesariny, comentou alguém. 

PEQUENA ODE A UM CARRO ELÉCTRICO

Colectivo sarcófago ambulante,
conduzes centos de almas, dia a dia
(ó morte desleal de cada instante!),
para a conquista pávida, incessante,
do envenenado pão do dia-a-dia.

Por isso te ergo a símbolo quase eterno,
ó provisória barca do Inferno!


David Mourão-Ferreira
(in Tempestade de Verão)
Fotos Beco das Barrelas, 
Carreira do eléctrico 28 

quinta-feira, dezembro 01, 2016

Os pássaros nascem na ponta das árvores

Os pássaros nascem na ponta das árvores 

As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros 

Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores 

Os pássaros começam onde as árvores acabam Os pássaros fazem cantar as árvores 

Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal 

Como pássaros poisam as folhas na terra quando o outono desce veladamente sobre os campos 

Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores mas deixo essa forma de dizer ao romancista é complicada e não se dá bem na poesia não foi ainda isolada da filosofia 
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros 
Quem é que lá os pendura nos ramos? 
De quem é a mão a inúmera mão? 
Eu passo e muda-se-me o coração.

Ruy Belo

 Fotos Beco das Barrelas, 
árvores dos jardins do Príncipe Real, Gulbenkian, Estrela e Amoreiras