quinta-feira, abril 28, 2016

Jamaica, Tokyo e Europa ainda não chegaram ao fim da história

A Comissão de Economia, Turismo, Inovação e Internacionalização da Assembleia Municipal de Lisboa decidiu recomendar à Câmara que proteja os estabelecimentos históricos da especulação imobiliária, tendo em conta o iminente fecho de discotecas míticas no Cais do Sodré, como a Jamaica e Tokyo.
Na recomendação, os deputados solicitam que o município envide “todos os esforços para que este tipo de estabelecimentos possa ser protegido da especulação imobiliária, de forma a salvaguardar a identidade histórico-cultural desta zona da cidade”.  
Isto porque, a seu ver, “o desaparecimento destes estabelecimentos irá contribuir para a descaracterização da área do Cais do Sodré”.
Ao mesmo tempo, os responsáveis pretendem que o município avance “rapidamente com o programa Lojas com História, de forma a ajudar à preservação do património de espaços comerciais da cidade”. Criado pela autarquia no ano passado, este programa visa dinamizar o comércio local.
Para isso, a autarquia discutirá em breve a criação de um regulamento que estipula os critérios de distinção dos estabelecimentos históricos da cidade, bem como as medidas de apoio a que se poderão candidatar, suportadas por um fundo de 200 mil euros.
A recomendação da Comissão de Economia, Turismo, Inovação e Internacionalização surge no seguimento de uma audição feita a Fernando Pereira, proprietário de duas discotecas no Cais do Sodré – Jamaica e Tokyo.
Este comerciante, juntamente com o dono do Europa (localizado no mesmo edifício) recebeu, em Outubro passado, uma denúncia do contrato de arrendamento por parte dos senhorios.
Apesar de ter efeito a partir de meados deste mês de Abril, ainda não houve despejos, já que os donos das discotecas optaram por penhorar o edifício para exigir conversações e pagamento de indemnizações em atraso.

O prédio onde estes espaços se encontram, na Rua Nova do Carvalho (a chamada Rua Cor de Rosa) foi vendido pelos cerca de 30 proprietário a uma imobiliária, que, por sua vez, o revendeu a um grupo hoteleiro francês.

LEIA TAMBÉM: TOKYO, JAMAICA E EUROPA AINDA NÃO TOCARAM A "ÚLTIMA VALSA"
Beco das Barrelas

segunda-feira, abril 25, 2016

Quando caiu o Carmo: Lisboa no centro da revolução


“Que o poema seja microfone e fale
uma noite destas de repente às três e tal
para que a lua estoire e o sono estale
e a gente acorde finalmente em Portugal”
Manuel Alegre

23h 55m de 24 de Abril de 1974 - João Paulo Dinis anuncia nos Emissores Associados de Lisboa: “Faltam 5 minutos para as 23 horas” e pôs a rodar a canção “E depois do adeus”, por Paulo de Carvalho.
00h 20m de 25 de 25 de Abril - A canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, passa no programa Limite, da Rádio Renascença, com a primeira estrofe gravada por Leite de Vasconcelos.
04h 20m de 25 de Abril - Joaquim Furtado lê no Rádio Clube Português o primeiro dos comunicados do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas.


05h 30m - Forças da Escola Prática de Cavalaria, de Santarém, comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, instalam-se no Terreiro do Paço, onde se localizavam os Ministérios militares do Governo, Marinha e Exército. O ministro do Exército foge do Ministério, por um buraco aberto na parede.

8h 10m - Um força de carros de combate do Regimento de Cavalaria 7 e de jeeps da GNR, sob o comando do brigadeiro Junqueira do Reis, aproxima-se do Terreiro do Paço pela Rua do Arsenal para enfrentar as tropas revoltosas. 

O capitão Salgueiro Maia e o tenente Correia da Assunção parlamentam com o brigadeiro. O brigadeiro dá voz de fogo ao cabo apontador do primeiro carro de combate. “Dispare sobre aquele homem”. Salgueiro Maia: “E o cabo não disparou. E quando um brigadeiro dá esta ordem a um cabo e ele não dispara, aí fez-se o 25 de Abril”.













12 horas - As forças que ocupavam o Terreiro do Paço subdividem-se. Uma coluna dirige-se para a Penha de França, para obter a rendição da Legião Portuguesa. A coluna do capitão Salgueiro Maia segue pelo Rossio para o Largo do Carmo, em cujo quartel da GNR se refugiara o chefe do Governo. Milhares de civis seguem esta coluna, em cima dos carros de combate ou a pé. No Rossio, a partir das bancas de venda de flores ali instaladas, há uma primeira distribuição de cravos pelos soldados.

"A Salgueiro Maia, lembrando o 25 de Abril de 1974,
homenagem da cidade de Lisboa.
CML 1992", no chão do Largo do Carmo.


12h 30m - O Quartel da GNR no Largo do Carmo é cercado por forças da Escola Prática de Cavalaria, reforçadas por unidades que tinham aderido ao longo da manhã ao Movimento. Após várias horas de impasse, de tentativas de negociação e de disparo de rajadas sobre a frontaria do edifício, o quartel do Carmo rende-se pelas 17 horas.
O capitão Salgueiro Maia entra no quartel e obtém a rendição de Marcelo Caetano, que reclama a presença de um oficial general a quem transmita o poder. Entra em cena o general Spínola. Marcelo Caetano, acompanhado pelos ex-ministros Moreira Batista e Rui Patrício, abandona o Carmo na viatura blindada denominada “Bula”, pelas 19h 20m.

"Aqui, na tarde de 25 de Abril
de 1974 a PIDE abriu fogo sobre
o povo de Lisboa e matou:
Fernando C. Gesteira
José J. Barneto
Fernando Barreiros dos Reis
José Guilherme R. Arruda
Homenagem de um grupo de cidadãos
25-4-1980",
na fachada da antiga sede da PIDE,
R. António Maria Cardoso,
 hoje um condomínio de luxo.










21 horas - Depois de primeiros 
incidentes junto à sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso, pelas 13 horas, dos quais resultaram 5 feridos, registam-se novos incidentes no local, pelas 21 horas. Agentes da PIDE/DGS disparam da varanda do primeiro andar da sede sobre a multidão que exigia a rendição da polícia política, causando dezenas de feridos e quatro mortos. Foi o único sangue que correu no dia da triunfante Revolução dos Cravos. A PIDE/DGS rendeu-se na manhã seguinte.


“Esta é a madrugada que eu esperava
 o dia inicial inteiro e limpo
 Onde emergimos da noite e do silêncio
 E livres habitamos a substância do tempo”
Sophia de Mello Breyner

Naqueles dias - ... como em 1383... ou 1640... - Lisboa esteve no centro da revolução. 
Texto e fotos Beco das Barrelas / D.R.

quarta-feira, abril 20, 2016

Deus Dinheiro tem Museu instalado numa Igreja da Baixa

A antiga Igreja de S. Julião
No Museu do Dinheiro, que abriu em Lisboa na quarta-feira, 20 de Abril de 2016, não se pode mexer nas notas e nas moedas expostas mas é possível passar a mão por uma barra de ouro que valerá – consoante a cotação – à volta de 500 mil euros.
Mercadores à porta do Templo
O Museu expõe 1.200 peças de um acervo de mais de 50 mil, coleccionadas desde 1975, e está instalado na antiga Igreja de S. Julião, no Largo do mesmo nome, vizinha da Câmara Municipal de Lisboa. 
A Igreja depois de templo religioso foi armazém e garagem. Agora é Museu. À colecção própria do Museu do Dinheiro juntam-se peças emprestadas pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda. O projecto museográfico é do designer Francisco Providência. 


A nota de 500 de Alves dos Reis
O Museu tem diversos “tesouros” em exposição: a primeira moeda do ocidente, do século VII a.C., a moeda Manuelina do século XV, o "Morabitino de Sancho II", como também as notas produzidas por Alves dos Reis no século XX.
Não se paga no Museu do Dinheiro. Mas levanta-se bilhete, através do qual se pode aceder às actividades do Museu: brincar com moedas, fazer uma moeda e uma nota com a fotografia do próprio visitante.


terça-feira, abril 19, 2016

Tem 3 milhões? Compre o Ritz Clube e divirta-se

O edifício do antigo Ritz Clube, situado no nº 57 da Rua da Glória, junto à Praça da Alegria, em Lisboa, está à venda por três milhões de euros.
O anúncio de uma empresa imobiliária adianta tratar-se de uma “antiga sala de espectáculos desde 1908, com capacidade para 400 pessoas”, uma “bonita fachada” e a “possibilidade de conversão para habitação ou turismo”.
Os proprietários do Ritz Clube anunciaram em Maio de 2013 que a sala encerrava "para obras". 
O antigo Sempre em Festa reabrira em Maio de 2012, após doze anos de encerramento para “reabilitação total”.
O edifício - classificado como de interesse municipal -, acolheu ao longo de 2013 dezenas de concertos e festas, o que terá motivado várias queixas de vizinhos.

Nos anos vinte do século XX, o clube nocturno chamado Ritz era nos Restauradores, no Palácio Foz e no actual local do Ritz funcionava o Club Montanha. Quando foi encerrado, em 1928, o Clube Montanha estava classificado como restaurante.
O Ritz passou mais tarde a ser um sítio com bailarinas privativas com muita rodagem, barbeiro e bacalhau assado pela noite fora, nos tempos da ditadura; na democracia, entrou a música étnica e  a multicultura. E o outrora chamado Sempre em Festa foi fechando e abrindo, sempre em festa, até que fechou e agora foi posto à venda. 

Fotos Beco das Barrelas 

segunda-feira, abril 18, 2016

75 anos depois de Josephine Baker, The Independent descobre a Primavera

O especialista em viagens do jornal britânico The Independent, Simon Calder, visitou Lisboa e na sequência da visita traçou um roteiro para comer durante um dia na cidade.
Para começar, o café da manhã será n’A Brasileira do Chiado, onde o preço da bica aumentou para um euro. Para além da bica há sempre a hipótese de tirar uma selfie sentado à mesa com Fernando Pessoa, não em pessoa mas em bronze. 

Seguindo para almoçar, The Independent aponta “um local burguês com um pequeno café que desagua num terraço”. Estamos no Cais da Pedra, frente a Santa Apolónia, e a sugestão para almoçar são os ovos mexidos com presunto serrano ou o salmão fumado com espargos.
Quanto ao jantar, The Independent  propõe uma subida ao Bairro Alto, com visita ao Restaurante Primavera do Jerónimo, na Travessa da Espera, nº 34, “uma tasca com pratos de peixe celestiais, especialmente bacalhau, o prato emblema da cidade”.

Diga-se que o Restaurante Primavera, fundado em 1921, e que mantém hoje o nome de um dos antigos proprietários – Primavera do Jerónimo – ficou no roteiro da cidade – e em foto na parede da casa - desde que Josephine Baker ali jantou quando esteve em Lisboa para actuar no Teatro da Trindade, em 1941. A cantora e bailarina terá jantado no Restaurante Primavera porque aquele era, nos anos 40, um dos cantinhos de jazz na capital. 

quinta-feira, abril 14, 2016

Salgalhadas,misturadas, salsadas e outras trapalhadas

PEIXE EM LISBOA VIRA 
PASTEL DE BELÉM EM BENFICA
Para demonstrar que “tudo o que vem à rede é peixe”, a promoção turística designada “Peixe em Lisboa” acaba de eleger… O Melhor Pastel de Nata de 2016. 
Assim mesmo, sem espinhas.
Concorreram 12 pastelarias e o prémio Pastel 2016 de Nata calhou a uma pastelaria de Benfica, como que a dizer que Belém já não é o que era, nem mesmo em matérias de pastéis. Para além de Lisboa foram distinguidas duas pastelarias de Alcobaça.
Obscenidade, diz Maria de Lurdes Modesto

Outra novidade gastro-astronómica são os pastéis de bacalhau com queijo da serra – para quem não gosta de Bacalhau nem de Queijo da Serra. Criados em Lisboa, os pastéis de bacalhau com queijo da serra fabricam-se agora também no Porto, servidos com fado.

O mercado aguarda agora com grande expectativa os pastéis de nata com bacalhau da serra, os pastéis de bacalhau com natas – o célebre bacalhau com natas na modalidade de pastel – e outras “obscenidades”, como Maria de Lurdes Modesto chamou aos pastéis de bacalhau com queijo. 
Nessa linha de montagem, aguarda-se para o Verão a saída das sardinhas assadas com ovo a cavalo. 

segunda-feira, abril 11, 2016

"Ter saudades não é vergonha..."


Fernando Assis Pacheco e Mário Alberto, uma "dupla Vaticana", à porta do Parque Mayer
(Foto dos anos 80, Cortesia de Miguel Pereira)

“A história dos lugares é a história dos homens que os habitaram ou que, ocasionalmente, por lá passaram, deixando, contudo, um lastro de presença. Por vezes, esses lugares nem sequer são belos. Por vezes, esses lugares são tristes reservas de comovidas saudades e de intensos mitos. Mas a verdade é que ter saudades não é vergonha, e sem mitos não se pode viver. O Parque Mayer é uma espécie de povoação abandonada ao sono, no interior do coração da cidade. É o mórbido sussurro de que são feitos os bosques nocturnos. Um bosque nocturno, eis o Parque Mayer, protegido por sentinelas que tentam, afinal, reabilitar um tempo e recuperar múltiplas épocas.
(…)
“O Parque Mayer, se me permitem o esforço imperativo de isto vos dizer, sempre foi a desordenada invenção de poetas ébrios e o esforço pessoal de muita gente anónima que marcou a nossa intimidade pessoal e a nossa exuberância colectiva.
Mário Alberto no seu cenário
“Não é ressuscitar o passado. Como escreveu Afonso Duarte, "o passado é sempre um resto / ou, pior, uma falta de saúde". É ressalvar uma identificação de Lisboa e resgatar uma afirmação popular de cultura. Nós julgamos que matamos o tempo. Talvez assim seja. Mas o tempo enterra-nos, não o esqueçamos.
“O Parque Mayer é uma história de família que estamos a esquecer, um sentimento distinto que estamos a assassinar, uma referência fundamentalmente lisboeta que estamos a deixar perder.
“Isto não é lá com eles. Isto é cá connosco.”

Baptista-Bastos - Parque Mayer: a reserva de mitos. Público, 6.12.1995

(a escolha e a responsabilidade de juntar esta foto e este excerto deste texto é dos editores deste blogue)

sábado, abril 09, 2016

Todos os dias são de Peixe em Lisboa

Mercado 31 de Janeiro, banca de Açucena Veloso
Peixe em Lisboa há todos os dias do ano, graças aos Pescadores e a Neptuno. Mas uma vez por ano há o Peixe em Lisboa turístico, com chefs de cuisine , condomínio fechado no Pátio da Galé e receitas para nacionais e turistas vindos dos países que disfarçam o peixe para não amedrontar nem enojar as pessoas com cabeças, olhos, espinhas e até com vísceras. É o peixe para quem verdadeiramente só gosta de filetes limpos e depurados do seu aspecto original. 
De maneira que enquanto decorre este Peixe em Lisboa de 2016, aqui fica a lembrança de uma dúzia de sítios onde se come peixe todo o ano e como ele melhor sabe.

- Manuel Caçador – Rua Agostinho Lourenço, 339 A (Entre o Areeiro e a linha do comboio), 218 486 965 – Cabeça de garoupa, pargo ou pescada.
- Casa Alcobaça – Rua da Oliveira ao Carmo, 9, 213 426 848 – Peixe fresco: sarda cozida com grelos e cebola, cachucho frito, sardinhas (quando é tempo delas).
- O Alfaia - Travessa da Queimada, 24, Bairro Alto, 213 461 232 - Petingas e joaquinzinhos fritos, bacalhau à minhota, filetes de polvo com arroz de amêijoas.
- Marítima de Xabregas - Rua da Manutenção 40, 218 682 235. Bacalhau assado com batatas a murro. A sério. 
- Casa do Bacalhau – Rua do Grilo, 54, 218 620 007 – Bacalhau, línguas, feijoada de samos, pastéis de bacalhau.
- Restaurante Laurentina, O Rei do Bacalhau - Avenida Conde Valbom, 71ª, 217 960 260. Alto, baixo, cozido, assado, Lascado Especial, em Pataniscas, à Brás, Couvada de Bacalhau.
- A Paz – Largo do Paz, 22B, 213 631 915 – Bacalhau, pescada, garoupa.
- Antiga Casa Faz Frio – Rua D. Pedro V, 96, 213 462 860 – Bacalhau: meia-desfeita à 2ª, cozido à 4ª, pastéis à 5ª, à Braz à sexta.
- A Travessa – Travessa do Convento das Bernardas ( Madragoa), 213 902 034 – Peixe Fresco, mexilhões.
- A Pescaria – Cais da Ribeira Nova, Armazém B, Portas 18 e 19, Cais do Sodré, 213 463 588 - Peixe grelhado.
- Senhor Peixe - Rua da Pimenta (Parque das Nações), 35, 218 955 892 – Peixe Fresco, de Setúbal para Lisboa.
- Restaurante do Mercado 31 de JaneiroRua Engenheiro Vieira da Silva, Picoas, 213 540 978 – Peixe fresco do Mercado.
- Restaurante Entre Copos - Rua de Entrecampos 11, 217 966 638 - Restaurante de grelhados e cozinha portuguesa, a grelha de peixe – garoupa, robalo, dourada, carapau, sardinha quando a há - é especial. 

Onde a qualidade carrega no peço:
- Mercado do Peixe – Caramão da Ajuda, 213 616 070 – Peixe fresco do dia.
- Restaurante Clube do Peixe - Avenida 5 de Outubro 180A, 217 973 434 – A qualidade faz-se pagar. Experimente o rascasso.

- Aqui Há Peixe - R. Trindade 18, 213 432 154 – Robalo, dourada, na grelha ou ao sal, arroz negro de choco, amêijoas, salada de polvo, bife de atum.
- SEA ME Peixaria Moderna - Rua do Loreto 21, 213 461 564 - Peixaria e marisqueira, fusão asiática do melhor. Do melhor, mesmo. 

Fora da cidade de Lisboa:
- Peixe Ó Balcão – Mercado de Algés, com peixe directamente das melhores bancas. 
- Restaurante D'Adraga – Praia da Adraga, Almoçageme, 219 280 028 - Há quem diga que é o melhor restaurante do mundo para comer peixe fresco. 

Se tiver outras sugestões, envie à nossa consideração. 

domingo, abril 03, 2016

O Aqueduto já faz parte do Guiness e pode chegar à UNESCO


Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa (Das obras que faltam à cidade de Lisboa, em português corrente), assim escreveu Francisco d’Olanda (ou Francisco de Holanda, hoje), em 1571, uma recomendação para D. Sebastião. A ideia – na parte que comportava a construção de um aqueduto para abastecer Lisboa e as zonas das fábricas – veio a ser aproveitada pelos Filipes de Espanha para lançar sobre o país ocupado o real da água, um imposto com o alegado objectivo de financiar as obras de construção do sistema de abastecimento de água para a capital de Portugal. Mas os Filipes colectaram o imposto mas não construíram qualquer aqueduto. O Aqueduto – com o sistema de captação e distribuição de águas à parte ocidental da cidade de Lisboa - veio a ser construído a partir do reinado de D. João V. 
Hoje o Aqueduto das Águas Livres já não distribui água até aos chafarizes. Mas é um imponente Monumento e Património Nacional que pode, no futuro, vir a ser Património da UNESCO.


Números:
- Da Quinta das Águas Livres aos chafarizes, o Aqueduto chega a atingir a extensão de 60 km.
- Ao longo dos canais de distribuição de água existem 127 arcos e 137 clarabóias.
- O Arco Grande, o mais alto, está situado sobre a Avenida Calouste Gulbenkian a uma altura de 65,29 metros acima do nível do rio, ou 276,95 palmos, como se media e pagava na altura da construção.
- O Arco Grande faz parte do no Livro dos Recordes do Guinness, com o maior arco em ogiva construído!
445 anos após o escrito do pintor, iluminador, arquitecto e humanista português  Francisco d’Olanda, o folheto em língua inglesa sobre o Águas Livres Aqueduct  distribuído aos visitantes do Aqueduto traduz o título da obra - Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa, isto é Das obras que faltam à cidade de Lisboa -  por “Of the Factory that Dies top the City of Lisbon”.

À parte esses lapsus linguae – ou, como dizem os ingleses com mania de fazer citações derivadas do latim: slip of the tongue – vale a pena visitar o Aqueduto, como aliás toda a complexa rede de distribuição que se liga à obra monumental.
As visitas podem marcar-se e fazer-se a partir do Museu da Água – Calçada da Quintinha nº 6, Lisboa – das terças aos sábados, das 10h às 17h 30m 


Texto e fotos Beco das Barrelas