segunda-feira, fevereiro 18, 2013

João do Grão: uma instituição!


Ainda a rua que se chama dos Correeiros dava pelo nome de Travessa da Palha - a rimar com canalha num fado cantado, como só ela sabia, por Lucília do Carmo - e já o galego João servia meia desfeita de bacalhau: salada de bacalhau desfiado com grão, temperados com azeite, vinagre, salsa e cebola. Nesses tempos, a taberna que dava cartas na Travessa da Palha era a do Friagem - referida aliás nos versos de Gabriel de Oliveira para o fado de Frederico de Brito e a voz de Maria Alice: "Cena Fadista". Mais tarde, "Foi na Travessa da Palha", cantado por Lucília: “Na taberna do Friagem // Entre muita fadistagem // Enfrentei-os sem rancor”. Fernando Farinha também cantou: “O Friagem foi talvez // A taberna mais fadista”… E Aníbal Nazaré escreveu para o teatro de revista: “Cantar o fado corrido na Taberna do Friagem”... Adiante. Nesse tempo, o galego João servia bacalhau e copos de tinto, numa das primeiras portas da rua è esquerda de quem vem da Praça da Figueira.
 
A casa chama-se há muitas décadas João do Grão. Conquistou fama, é uma instituição. João do Grão foi mesmo o título de uma revista do Parque Mayer, com António Silva, no início da década de 40 do século passado. Vem gente de outras cidades do País e de fora, sobretudo de Espanha, para se sentar à mesa do João do Grão. O bacalhau já não é prato único da casa - que serve o fiel amigo assado na brasa, cozido com grão, à Brás, à Gomes de Sá ou em açorda -, mas também iscas à portuguesa, mão de vaca com grão, cozido à portuguesa, numa lista a que não faltam os peixes do dia e as carnes mais triviais, tudo sempre servido com fartura de legumes frescos e outros acompanhamentos. A lista de vinhos é manifestamente insuficiente para tanta fartura e diversidade de peixes e carnes.
O João do Grão é bom e relativamente barato, o serviço é rápido e educado. Tem duas salas, está aberto do meio-dia às três da tarde e das seis às 10 da noite. Só fecha no dia de Natal.
Mas o Natal, como o bacalhau, é quando um homem quiser!
 
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Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

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