segunda-feira, janeiro 14, 2013

Cinemas Paraíso


A jean seberg vendia o herald tribune nos filmes
 de godard, e eu procurava troco na carteira
 para lhe comprar o jornal. Ela dizia-me que
 não era preciso dar troco, e eu dava-lhe uma nota
 para ela me dar o jornal, e era como se já
 o tivesse lido nos seus olhos.
Nuno Júdice

Cada um de nós terá o seu Cinema Paraíso. O cinema da magia, da ilusão e da inocência da infância que um dia foi demolido ou mudou de ramo: passou a ser um banco, um pagode de uma seita religiosa ou uma loja chinesa; ou não passou a ser nada. O livro Os cinemas de Lisboa – um fenómeno urbano do século XX, de Margarida Acciauoli, editado pela Bizâncio (Lisboa, 2012), veio reavivar as recordações ou mesmo os pequenos fantasmas caseiros de uma ou outra memória.
O cinema não era só o filme, era também - e muito - a própria sala.
Ir ao cinema não era uma rotina e as idas ao cinema tinham muitas vezes valor acrescentado ao valor do filme: o voo da imaginação, a companhia dos amigos ou dos primeiros namoros, a bebida ou o cigarro que se experimentavam no intervalo.
E o cinema não era apenas um filme: era uma tarde ou uma noite de animação, com documentários, apresentações, desenhos animados e o filme de fundo.
A autora do livro faz um roteiro melancólico dos cinemas da infância e juventude de gerações de lisboetas, debruçando-se sobre aspetos arquitetónicos e sociológicos. Cada um dos seus leitores vai acrescentar alguma coisa de seu à memória dos cinemas de Lisboa - desaparecidos, transformados em outras coisas, mais os que resistem ao avanço de uma concorrência avassaladora.
Hoje há salas de cinema por vezes mais confortáveis, com melhor som e imagem mais segura, metidas em geral dentro de deprimentes centros comerciais e tresandando ao óleo de fritos das pipocas.
Mas na memória de cada um há certamente um Cinema Paraíso implodido pelo avanço inexorável de algo que não é propriamente progresso.

                          Texto João Francisco e fotos Francisco João

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