segunda-feira, novembro 12, 2012

Todos os santos e mais um


Trinta das atuais 53 freguesias de Lisboa têm nomes de santos. Na toponímia da cidade, 217 avenidas, ruas, calçadas, travessas, praças e largos, escadinhas, becos, pátios e azinhagas têm nomes de santos, do Santíssimo, de freis, padres e madres e dos mais simples dos Fiéis-de-Deus. Mas nenhum santo tem o culto diário, a devoção quotidiana, discreta mas reconhecida, como aquela que se manifesta diariamente junto ao monumento ao Dr. Sousa Martins, no Campo dos Mártires da Pátria. Em vida foi um santo homem, um médico bondoso, dedicado ao tratamento dos pobres, um clínico dotado de uma capacidade rara, naquele tempo, para apontar o diagnóstico certo e encontrar o tratamento mais adequado.
Nascido em Alhandra em 7 de Março de 1843, José Thomaz de Sousa Martins veio para Lisboa no fim da instrução primária, recolhido por um tio materno após a morte do pai, fez o curso liceal e, mais tarde, frequentou os cursos de medicina e de farmácia. O tio era proprietário da Farmácia Ultramarina, na Rua de São Paulo, o que teve influência nas escolhas do jovem. Sousa Martins licenciou-se em Farmácia com 21 anos e em Medicina com 23. Aos 33 anos foi convidado para reger a cátedra de Patologia na Escola Médica.
Sousa Martins tornou-se rapidamente reconhecido com médico dos pobres e dos mais desprotegidos perante a terrível doença da época que era a tuberculose. E foi do contágio pelos seus doentes que veio a sofrer da mesma doença que eles. Como médico, padecendo de uma doença que ao tempo dificilmente tinha cura, Sousa Martins morreu em 18 de Agosto de 1897, depois de se ter injetado com uma dose letal de morfina.
Sete anos após a sua morte, foi erguida no Campo dos Mártires da Pátria, em frente da Escola Médica, a estátua do médico Sousa Martins, a 7 de Abril de 1904. Outros monumentos evocativos de Sousa Martins foram levantados em Alhandra e na Guarda, onde em 1918 foi construído o Sanatório com o nome do clínico.
O culto de Sousa Martins nascera em vida do médico mas, após a morte, assumiu outra dimensão e sentido. José Thomaz de Sousa Martins era, para além de médico e farmacêutico, espírita, o que poderá estimular as iniciativas no sentido de o procurar contactar além-túmulo, mais de um século após a sua morte, e obter do infinito a cura de males que afligem os doentes e suas famílias.
A devoção em torno do Dr. Sousa Martins enche o espaço em redor do seu monumento em Lisboa de ex-votos, placas de mármore com agradecimentos por graças recebidas, velas acesas, flores. O médico é venerado como um santo. Mas a Igreja Católica abjura o culto em torno do Sousa Martins, praticante do espiritismo e suicida.

Guerra Junqueiro disse a respeito do Dr. Sousa Martins:
 Eminente homem que radiou amor, encanto, esperança, alegria e generosidade,
Foi amigo, carinhoso e dedicado dos pobres e dos poetas,
A sua mão guiou. O seu coração perdoou, A sua boca ensinou.
Honrou a medicina portuguesa e todos os que nele procuraram cura para os seus males.”

Texto e fotos Beco das Barrelas / Direitos reservados.

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