terça-feira, outubro 02, 2012

A solidão do Marquês no seu pedestal

Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras mais conhecido como Marquês de Pombal, é o político português que ocupa há mais tempo a mesma posição na vertical: está há 78 anos de pé, no alto de um pedestal de 40 metros, com um leão pela trela e, no momento em que foi registada a foto, com uma pomba no alto da cabeça. O Marquês olha de frente a sua obra, a Baixa Pombalina, e para além dela vê o Tejo e a outra banda. O cenário fá-lo-á recordar a todo o momento aquele funesto dia 1 de Novembro de 1755. Mas o Marquês fica sozinho com a sua memória e, de vez em quando, com algum remorso. “Azar dos Távoras”, terá murmurado certa vez, de acordo com uma fonte próxima que pediu anonimato.

De outra vez, e segundo outra fonte, o Marquês terá lamentado que o poder em Portugal não o ouça. É certo que foi uma déspota, mas esclarecido. E também foi um adepto do iluminismo. Ainda hoje há amoreiras e bichos-da-seda por todo o País. E produziu reformas políticas, sociais e educativas. Também é verdade que expulsou os jesuítas. E não é menos verdade que os autos-de-fé e a escravatura começaram com ele a ter os dias contados.
O que o Marquês mais lamenta, segundo várias fontes, não é que lhe esventrem o subsolo da Praça para construir redes de túneis, ou o cerquem com rotundas concêntricas que mais parecem os anéis de Saturno. Mas que o façam sem lhe dizerem água vai, como se dizia no século XVIII.
O Marquês pensa que ainda poderia apresentar ao seu País algumas propostas para o futuro: largas avenidas, ideias arejadas. Mas há um problema de comunicação. E uma imensa solidão no alto daquele pedestal.
 
Texto de João Francisco. Foto de Paulo Navarro / Direitos reservados.

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