segunda-feira, outubro 15, 2012

A Praça dos 87 arcos

Em 16 de Janeiro de 1758, “com a rubrica de Sua Magestade” (com g no original), D. José I, e porque lhe fora “suplicado” pelos seus “vassalos”, fez publicar o decreto decidindo “a construção de uma praça digna da capital do reino e com a comodidade necessária para nela se instalarem os comerciantes”. “Sou servido que logo se proceda às referidas obras…”, lavrou D. José. E assim nasceu a Praça do Comércio, desse modo designada pelo Marquês de Pombal. Terreiro do Paço chamou-se depois, quando a residência real foi transferida para o Paço da Ribeira, junto ao rio.
O projeto da Praça foi da autoria de Eugénio dos Santos, sob a responsabilidade direta do Marquês. A Praça ficou a abrir-se para a Baixa da Cidade pelas ruas do Ouro e da Prata e pelo Arco da Rua Augusta, desaguando para o Tejo pelo Cais das Colunas. Ao centro, Sua Majestade. Os arcos das Arcadas das três alas do Terreiro são 86. Com o da Rua Augusta 87. Há uma interpretação cabalística para os números e a geometria de todo este espaço público.
Muita história correu sob as Arcadas e no Terreiro. Num dos acessos à Praça deu-se o Regicídio (1908) e ali tiveram lugar os primeiros enfrentamentos na manhã de 25 de Abril (1974). Houve um tempo em que Arcada era sinónimo de poder. Notícias da Arcada, correspondentes na Arcada, uma fonte da Arcada davam as novidades permitidas e rateadas da governação. Também foi a Praça dos heróis, dos mutilados, das viúvas e dos órfãos das guerras coloniais. E foi a Praça onde o almirante Pinheiro de Azevedo proclamou em 1975 que "o povo é sereno" e "fumaça" é "só fumaça".
Até que, já no século XXI, o Terreiro se libertou e ganhou foros de Praça. A Praça trocou serviços de ministérios por zonas de lazer e esplanadas, embora alguns gabinetes do Governo ainda estejam instalados nas Arcadas. O bicentenário Martinho da Arcada já não está sozinho: há mais uma dezena de restaurantes, cervejarias e cafés na Praça. Mas não há só o lazer. O Lisboa Story Centre, promete ser um centro de interpretação interativa das memórias da história lisboeta.

Texto de João Francisco. Fotos de Francisco João. Direitos reservados.

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