sábado, agosto 25, 2012

A tradição já não é o que era

Passava o ano de 1934 quando José Galhardo e Raul Ferrão compuseram o fado Tendinha, para ser cantado por Hermínia Silva na revista Zé dos Pacatos, a subir à cena no Teatro Apolo. A letra do fado cometia à “velha taberna”, a “velha tasca humilde e terna” que inspirava o fado, a missão de “manter a tradição”, “nesta Lisboa moderna”. Fundada em 1840, a Tendinha ainda existe. Mas a tradição é que já não é o que era.
Em primeiro lugar, a Tendinha já não serve simplesmente vinhos, licores, ginginha e águas. E depois não há clientes a cavalo à porta da "velha taberna", nem a Tendinha dispõe de serviço de esplanada. Quanto à ementa, agora é mais sandes - torresmos, salsicha e ovo, queijo fresco, presunto, panado, filete de pescada, tira de bacalhau ou bifana -, fritos - pastéis de bacalhau, croquetes, rissóis, chamuças -, mas também o velho ovo cozido. E para adoçar a boca, pastéis de Belém, arroz-doce e cubos de marmelada.
Para beber, cervejas, vinho a copo, o tradicional e inevitável licor de ginja, com ou sem “elas”, as ginjas. Também se bebe o Eduardino, mistura de ginja com anis, em direto para o fígado. A Tendinha mantém o seu lugar no circuito lisboeta da ginginha, zona demarcada entre o Largo de São Domingos, a Rua Barros Queirós, o Rossio e o Bairro Alto. Têm clientes certos, que bebem de pé e à conversa. Na Avenida da Liberdade, do lado do antigo Café Paladium, O Pirata serve um derivado da ginja, com vinho e água gaseificada. Quanto à velha Tendinha, ganhou direito a música.
Fotos Francisco João (direitos reservados). Texto João Francisco.

1 comentário:

  1. Para quem, como eu, passou infância e adolescência na R. S. Julião, a velha Tendinha era poiso frequente com os colegas da Faculdade. E por isso, por esse excesso de modernismo levei bons raspanetes do meu Pai. Não deram resultado.
    Mas a Tendinha de hoje perdeu muito do seu encanto.

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